terça-feira, 26 de maio de 2020

Gentileza gera gentileza




No Brasil, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas (Conic), é fixada  neste dias que antecedem  a festa de Pentecostes (próximo domingo). Este ano, com o desafio da crise sanitária devida a pandemia,  nos é proposto o tema: Gentileza gera gentileza.
Somos interpelados a sairmos de toda tipo de fechamento e intolerância, assim  nos reconhecer  como irmãos e irmãs, cultivando  a gentileza como estilo de vida. 
Desta forma poderemos testemunhar ao mundo a gentileza de Deus conosco e juntos promover a justiça, a paz e defesa da Terra e da natureza criada e habitada pelo Amor Divino.

Motivada por esta Semana de preparação para a grande Festa da unidade, Pentecostes, quiz partilhar alguns poemas de várias tradiçōes, que  pode nos alimentar neste tempo de espera e de desejo de um mundo melhor.
 Assim seja



AMOR PACÍFICO E FECUNDO!

Não quero amor que não saiba dominar-se,
desse, como vinho espumante,
que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.

Dá-me esse amor fresco e puro como a tua chuva,
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.

Amor que penetre até o centro da vida,
e dali se estenda como seiva invisível,
até os ramos da árvore da existência,
e faça nascer as flores e os frutos.
Dá-me esse amor que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!

****

EU e TU
Sentados no palácio duas figuras,
São dois seres, uma alma, tu e eu.
Um canto radioso move os pássaros
Quando entramos no jardim, tu e eu!
Os astros já não dançam, e contemplam
a lua que formamos, tu e eu!
Enlaçados no amor, sem tu nem eu,
Livres de palavras vãs, tu e eu!
Bebem as aves do céu a água doce
De nosso amor, e rimos tu e eu!
Estranha maravilha estarmos juntos:
Estou no Iraque e estás no khorasan

Jalâl ad-Din Rûmî, em “A Sombra do Amado: Poemas de Rûmî”. [tradução Marco Lucchesi e Luciana Persice]. Rio de Janeiro: Fissus, 2000

****

Quem sou eu?

Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que deixo a minha cela
sereno, alegre e firme,
qual dono que sai do seu castelo.
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que falo com os que me guardam
livre, amável e com clareza,
como se fosse eu a mandar.

Quem sou eu?
Também me dizem que suporto os dias do infortúnio
impassível, sorridente e altivo,
como alguém acostumado a vencer.

Sou mesmo o que os outros dizem a meu respeito?
Ou sou apenas o que eu sei a respeito de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente, como um pássaro na gaiola,
respirando com dificuldade, como se me apertassem a garganta,
faminto de cores, de flores, do canto dos pássaros,
sedento de palavras boas, de proximidade humana,
tremendo de ira por causa da arbitrariedade e ofensa mesquinha,
irrequieto à espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para criar,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?

Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou ambos ao mesmo tempo? Diante das pessoas um hipócrita?

E diante de mim mesmo um covarde queixoso e desprezível?
Ou aquilo que ainda há em mim será como um exército derrotado,
que foge desordenado à vista da vitória já obtida?


Quem sou eu? O solitário perguntar zomba de mim.
Quem quer que eu seja, ó Deus, tu me conheces.
Sou teu.
 O poema acima foi retirado do livro “Dietrich Bonhoeffer: Vida e pensamento”, de Werner Milstein, lançado pela Ed. Sinodal.


****
Sobre aquelas palavras: “Dilectus meus mihi”
Entreguei-me toda, e assim
Os corações se hão trocado:
Meu Amado é para mim,
E eu sou para meu Amado.
Quando o doce Caçador
Me atingiu com sua seta,
Nos meigos braços do Amor
Minh’alma aninhou-se, quieta.
E a vida em outra, seleta,
Totalmente se há trocado:
Meu Amado é para mim,
E eu sou para meu Amado.
Era aquela seta eleita
Ervada em sucos de amor,
E minha alma ficou feita
Uma com o seu Criador.
Já não quero eu outro amor,
Que a Deus me tenho entregado:
Meu Amado é para mim,
E eu sou para meu Amado.

Santa Teresa de Jesus

 

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