domingo, 31 de maio de 2020

Vem, vamos Espirito


“Vem, Espírito Santo, Vem, ou melhor, vamos:
Faze que nós vamos aonde Tu nos levas. Tu nunca Te ausentas,
ar que respiramos, vento que acompanhas, clima que aconchegas.
Vem, Para levar-nos por esse Caminho, o Caminho vivo, que conduz ao Reino.
Vem, para arrancar-nos, numa ventania de verdade e graça,
de tantas raízes de mentira e medo que nos escravizam.
Vem, feito uma brisa, para amaciar-nos, feito um fogo lento, um beijo gostoso,
a paz da justiça, o dom da ternura, a entrega sem cálculos, o amor sem cobrança,
a Vida da vida. 
Vem, pomba fecunda, sobre o mundo estéril
 E suscita nele a antiga esperança, a grande utopia da Terra sem males, a antiga, a nova, a eterna Utopia! 
 Vem, vamos, Espírito!”

 Dom Pedro Casaldáliga 




terça-feira, 26 de maio de 2020

Gentileza gera gentileza




No Brasil, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas (Conic), é fixada  neste dias que antecedem  a festa de Pentecostes (próximo domingo). Este ano, com o desafio da crise sanitária devida a pandemia,  nos é proposto o tema: Gentileza gera gentileza.
Somos interpelados a sairmos de toda tipo de fechamento e intolerância, assim  nos reconhecer  como irmãos e irmãs, cultivando  a gentileza como estilo de vida. 
Desta forma poderemos testemunhar ao mundo a gentileza de Deus conosco e juntos promover a justiça, a paz e defesa da Terra e da natureza criada e habitada pelo Amor Divino.

Motivada por esta Semana de preparação para a grande Festa da unidade, Pentecostes, quiz partilhar alguns poemas de várias tradiçōes, que  pode nos alimentar neste tempo de espera e de desejo de um mundo melhor.
 Assim seja



AMOR PACÍFICO E FECUNDO!

Não quero amor que não saiba dominar-se,
desse, como vinho espumante,
que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.

Dá-me esse amor fresco e puro como a tua chuva,
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.

Amor que penetre até o centro da vida,
e dali se estenda como seiva invisível,
até os ramos da árvore da existência,
e faça nascer as flores e os frutos.
Dá-me esse amor que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!

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EU e TU
Sentados no palácio duas figuras,
São dois seres, uma alma, tu e eu.
Um canto radioso move os pássaros
Quando entramos no jardim, tu e eu!
Os astros já não dançam, e contemplam
a lua que formamos, tu e eu!
Enlaçados no amor, sem tu nem eu,
Livres de palavras vãs, tu e eu!
Bebem as aves do céu a água doce
De nosso amor, e rimos tu e eu!
Estranha maravilha estarmos juntos:
Estou no Iraque e estás no khorasan

Jalâl ad-Din Rûmî, em “A Sombra do Amado: Poemas de Rûmî”. [tradução Marco Lucchesi e Luciana Persice]. Rio de Janeiro: Fissus, 2000

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Quem sou eu?

Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que deixo a minha cela
sereno, alegre e firme,
qual dono que sai do seu castelo.
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que falo com os que me guardam
livre, amável e com clareza,
como se fosse eu a mandar.

Quem sou eu?
Também me dizem que suporto os dias do infortúnio
impassível, sorridente e altivo,
como alguém acostumado a vencer.

Sou mesmo o que os outros dizem a meu respeito?
Ou sou apenas o que eu sei a respeito de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente, como um pássaro na gaiola,
respirando com dificuldade, como se me apertassem a garganta,
faminto de cores, de flores, do canto dos pássaros,
sedento de palavras boas, de proximidade humana,
tremendo de ira por causa da arbitrariedade e ofensa mesquinha,
irrequieto à espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para criar,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?

Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou ambos ao mesmo tempo? Diante das pessoas um hipócrita?

E diante de mim mesmo um covarde queixoso e desprezível?
Ou aquilo que ainda há em mim será como um exército derrotado,
que foge desordenado à vista da vitória já obtida?


Quem sou eu? O solitário perguntar zomba de mim.
Quem quer que eu seja, ó Deus, tu me conheces.
Sou teu.
 O poema acima foi retirado do livro “Dietrich Bonhoeffer: Vida e pensamento”, de Werner Milstein, lançado pela Ed. Sinodal.


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Sobre aquelas palavras: “Dilectus meus mihi”
Entreguei-me toda, e assim
Os corações se hão trocado:
Meu Amado é para mim,
E eu sou para meu Amado.
Quando o doce Caçador
Me atingiu com sua seta,
Nos meigos braços do Amor
Minh’alma aninhou-se, quieta.
E a vida em outra, seleta,
Totalmente se há trocado:
Meu Amado é para mim,
E eu sou para meu Amado.
Era aquela seta eleita
Ervada em sucos de amor,
E minha alma ficou feita
Uma com o seu Criador.
Já não quero eu outro amor,
Que a Deus me tenho entregado:
Meu Amado é para mim,
E eu sou para meu Amado.

Santa Teresa de Jesus

 

domingo, 3 de maio de 2020

Meu Senhor, meu Redentor

Como Maria de Magdala, caminho na madrugada, indo ao túmulo Te encontrar...
Como Pedro e João entro no túmulo e o encontro vazio, frio...
.Caminho distanciando-me de Jerusalém, do lugar de Teu derradeiro sacrificio, ainda que estejas caminhando ao meu lado, não Te reconheço, a morte, a decepção, a tristeza  tornam o coração pesado, os olhos embasados.
Com os discipulos, numa noite de esforços em vão, não obstante minhas capacidades, faço a experiência de minha impotência, numa pesca infrutuosa no mar revolto...
Onde Tu te encontras em meio a estas minhas buscas  tão imprecisas???
Procuro-Te onde não estás? Ou não Te vejo onde tu te encontras... Onde estás quando a morte ainda pesa tanto, onde o mal teima com sua violência  destruidora, muitas vezes com uma aparência de bem? Onde estás Senhor? Celebramos tua Páscoa  e ainda estamos titubeando, procurando  em meio a  sinais de morte, de desespero, Aquele que pensamos ai dormir. Ainda o mar está revolto, temos medo, nossa barca parece se afundar, uma humanidade em pânico, muitos dormem indiferentes com o destino dos mais vulneráveis. Tempo de incertezas, olho para o único sinal que nos promete vida, elevo meus olhos para Ti na cruz. Lugar  de derrota... não, aqui Te entregas  por amor,  a cruz torna-se sinal de esperança, porque   tu te  doas por inteiro, sem condições, em plena liberdade. É neste lugar com aparência  de derrota que brota vida, deste lugar  tudo toma sentido, aos pés tem a mãe e o discípulo  amado, aqui Tu me encontras nun eterno abraco, com sede da humanidade que sou,  minhas buscas cessam dando espaço para a contemplação do Amor Crucificado e Ressuscitado. Compreendo que num único momento, vida e morte se encontram. A vida plenificando tudo, dando sentido à   dor e ao sofrimento,  céu e terra se abraçam,  a paz se realiza no coração de quem eleva o olhar a Ti, tudo se faz certeza, o amor vence o ódio, derrubando toda fronteira, as trevas se esvaem,  a luz irrompe na madrugada de Tua Páscoa.  Aqui se completa a Criação, uma Nova Aliança selada com o sangue do Cordeiro, somos novas criaturas. Tu, o Ressuscitado carregas marcas do sofrimento de toda humanidade.
Fixo meu olhar em Ti e encontrando-Te, sacio minha muitas sedes.
 Tu es  a minha páscoa, minha esperança de ressureição. Sou redimida, sou salva, tenho em mim à semente da eternidade.
 
Ir. Geny da Silva



Bom e Belo Pastor

Confiarei na Tua mão que não me prende,
mas que me acolhe, me conduz a cada passo  que fizer.
Confiarei ainda que o dia escureça
Não há mal que aconteça se contigo eu estiver.


 Eu Te seguirei, sem distanciar-me de Teus passos
Um só instante perto de Ti vale o cansaço da estrada...
contando que sejas Tu a acompanhar- me
 na aventura da liberdade tão sonhada.


A Tua graça e Tua Missão me sustentam,
E avançarei, avançarei no meu caminho,
escutando a melodia de Tua voz, Pastor, Belo e Bom,
tenho a certeza que nunca estou sozinho.

Ir. Geny da Silva



Beija-flor, mensageiro do céu

  Um beija-flor me visitou, voou tão perto, em dança leve, asas tingidas de esperança, num vai e vem que fala sem voz. Pousou, pedindo ...