No Brasil, a Semana de
Oração pela Unidade dos Cristãos, promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas
(Conic), é fixada neste dias que antecedem a festa de Pentecostes (próximo
domingo). Este ano, com o desafio da crise sanitária devida a pandemia, nos é proposto o tema: Gentileza gera
gentileza.
Somos interpelados a
sairmos de toda tipo de fechamento e intolerância, assim nos reconhecer como irmãos
e irmãs, cultivando a gentileza como estilo
de vida.
Desta forma poderemos
testemunhar ao mundo a gentileza de Deus conosco e juntos promover a justiça, a
paz e defesa da Terra e da natureza criada e habitada pelo Amor Divino.
Motivada por esta Semana
de preparação para a grande Festa da unidade, Pentecostes, quiz partilhar alguns
poemas de várias tradiçōes, que pode nos alimentar neste tempo de espera e de desejo
de um mundo melhor.
Assim seja
AMOR PACÍFICO E FECUNDO!
Não quero amor que não saiba dominar-se,
desse, como vinho espumante,
que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.
Dá-me esse amor fresco e puro como a tua chuva,
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.
Amor que penetre até o centro da vida,
e dali se estenda como seiva invisível,
até os ramos da árvore da existência,
e faça nascer as flores e os frutos.
Dá-me esse amor que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!
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EU e TU
Sentados no palácio duas figuras,
São dois seres, uma alma, tu e eu.
Um canto radioso move os pássaros
Quando entramos no jardim, tu e eu!
Os astros já não dançam, e
contemplam
a lua que formamos, tu e eu!
Enlaçados no amor, sem tu nem eu,
Livres de palavras vãs, tu e eu!
Bebem as aves do céu a água doce
De nosso amor, e rimos tu e eu!
Estranha maravilha estarmos juntos:
Estou no Iraque e estás no khorasan
Jalâl ad-Din Rûmî, em “A Sombra do Amado: Poemas de Rûmî”. [tradução Marco
Lucchesi e Luciana Persice]. Rio de Janeiro: Fissus, 2000
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Quem sou eu?
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que deixo a minha cela
sereno, alegre e firme,
qual dono que sai do seu castelo.
Quem sou eu? Seguidamente me
dizem
que falo com os que me guardam
livre, amável e com clareza,
como se fosse eu a mandar.
Quem sou eu?
Também me dizem que suporto os
dias do infortúnio
impassível, sorridente e altivo,
como alguém acostumado a vencer.
Sou mesmo o que os outros dizem a
meu respeito?
Ou sou apenas o que eu sei a respeito de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente, como um pássaro na gaiola,
respirando com dificuldade, como se me apertassem a garganta,
faminto de cores, de flores, do canto dos pássaros,
sedento de palavras boas, de proximidade humana,
tremendo de ira por causa da arbitrariedade e ofensa mesquinha,
irrequieto à espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para criar,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?
Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou ambos ao mesmo tempo? Diante das pessoas um hipócrita?
E diante de mim mesmo um covarde
queixoso e desprezível?
Ou aquilo que ainda há em mim será como um exército derrotado,
que foge desordenado à vista da vitória já obtida?
Quem sou eu? O solitário
perguntar zomba de mim.
Quem quer que eu seja, ó Deus, tu me conheces.
Sou teu.
O poema acima foi retirado
do livro “Dietrich Bonhoeffer: Vida e pensamento”, de Werner
Milstein, lançado pela Ed. Sinodal.
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Sobre aquelas
palavras: “Dilectus meus mihi”
Entreguei-me
toda, e assim
Os corações se
hão trocado:
Meu Amado é para
mim,
E eu sou para meu
Amado.
Quando o doce
Caçador
Me atingiu com
sua seta,
Nos meigos braços do Amor
Minh’alma
aninhou-se, quieta.
E a vida em
outra, seleta,
Totalmente se há
trocado:
Meu Amado é para
mim,
E eu sou para meu
Amado.
Era aquela seta
eleita
Ervada em sucos
de amor,
E minha alma
ficou feita
Uma com o seu
Criador.
Já não quero eu
outro amor,
Que a Deus me
tenho entregado:
Meu Amado é para
mim,
E eu sou para meu
Amado.
Santa Teresa de
Jesus