quinta-feira, 28 de abril de 2022

DEUS

 

 
Nos tempos antigos, quando o primeiro tremor da fala veio aos meus lábios, subi a montanha sagrada e falei com Deus, dizendo: “Mestre, eu sou teu escravo. Tua vontade oculta é minha lei e eu te obedecerei para sempre”

Mas Deus não respondeu, e como uma poderosa tempestade passou.

E depois de mil anos eu subi a montanha sagrada e novamente falei com Deus, dizendo: “Criador, eu sou tua criação. Do barro me formaste e a ti devo tudo”.

E Deus não respondeu, mas como mil asas velozes ele passou.
 

E depois de mil anos eu subi a montanha sagrada e falei com Deus novamente, dizendo: “Pai, eu sou teu filho. Com piedade e amor me deste à luz, e através do amor e da adoração herdarei o teu reino”.

E Deus não respondeu e, como a névoa que encobre as colinas distantes, ele passou.
 

 E depois de mil anos subi a montanha sagrada e novamente falei com Deus, dizendo: “Meu Deus, meu objetivo e minha realização; Eu sou teu ontem e tu és meu amanhã. Eu sou tua raiz na terra e tu és minha flor no céu, e juntos crescemos diante da face do sol.”

Então Deus se inclinou sobre mim, e em meus ouvidos sussurrou palavras de doçura, e assim como o mar que envolve um riacho que desce até ele, ele me envolveu.

E quando desci aos vales e planícies, Deus estava lá também.

— Khalil Gibran em “O Louco” (1918)

 

Beija-flor, mensageiro do céu

  Um beija-flor me visitou, voou tão perto, em dança leve, asas tingidas de esperança, num vai e vem que fala sem voz. Pousou, pedindo ...