Beija-flor, mensageiro do céu

 

Um beija-flor me visitou,
voou tão perto, em dança leve,
asas tingidas de esperança,
num vai e vem que fala sem voz.

Pousou, pedindo atenção,
como quem traz recado do alto.
Recebi-o como boa notícia,
um sopro de ternura no dia.

Beijou uma flor do meu jardim,
e o coração lembrou-se dela —
minha mãe, que um dia alçou voo
para o céu onde mora a paz.

“Beija-flor que tocas o céu,
leva meu beijo em teu voo leve.
Diz à minha mãe que a sinto perto,
morando no coração de Deus.”

Ir. Geny da Silva

Poema da Escuta

Escutar é sintonizar-me com o Grande Outro,
como no Shema Israel,
um apelo que ressoa dentro de mim,
voz do Deus da Vida
que habita o meu planeta interior.

Escutar é voltar-me para dentro,
 para acolher todas a facetas do meu ser,
vozes antigas e novas,
que pedem atenção e carinho.

Escutar é abrir-me ao quotidiano,
aos que encontro no caminho,
acolhendo no olhar e no silêncio
o mistério de cada vida que me toca.

Escutar é deixar a natureza falar,
tantos sons, tantos sinais audíveis,
um coro secreto que me envolve,
como um canto de louvor ao Criador.

E assim, na escuta plena,
revelamos juntos a maravilha da VIDA,
um hino silencioso que brota
de tudo o que respira, pulsa e é.

Ir. Geny da Silva

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Casa do Pão

Reacenda o fogo

A vida tem pressa.

O trigo triturado,
o fermento ansioso pela transformação.

A massa levedada tornar-se-á pão.

Na mesa — convivialidade,
amor que se faz refeição.

Corações ardentes,
mãos entrelaçadas,
pés a caminho
pelas periferias humanas.

Nos encontros de corações feridos,
famintos de vida,
sedentos de paz,
o Amor se faz pão.

Reacenda o fogo:
o tempo urge,
a vida tem pressa.

Corações ardentes,
pés a caminho,
no amor — doação,
no pão partilhado — comunhão.

Ir. Geny da Silva

MORADA DO AMOR

 Trindade Santa, amor que se revela, amor que se manifesta, amor que se vive.

Tu és o Amante que nos cria,
o Amor que chega silencioso ao cotidiano,
em gestos pequenos, discretos, mas cheios de luz.

És o Belo que encanta, o Bom que acalenta,
o Verdadeiro que nos surpreende com Tua gratuidade,
fazendo o coração transbordar de alegria e gratidão.

Filho Amado, em Ti se revela o Pai,
em Ti, sou filha amada, acolhida e inteira.

Oh Amante da humanidade,
num único sopro de Amor,
entrastes no tempo,
entregando-nos a superabundância da vida,
que ecoa, infinita, na eternidade.

E Tu, Espírito, sopro de vida,
habitas em nós, nos preenches,
nos conduzes com desvelo e cuidado,
transformando-nos em morada viva do Amor.

Geny da Silva

DEUS

 

 
Nos tempos antigos, quando o primeiro tremor da fala veio aos meus lábios, subi a montanha sagrada e falei com Deus, dizendo: “Mestre, eu sou teu escravo. Tua vontade oculta é minha lei e eu te obedecerei para sempre”

Mas Deus não respondeu, e como uma poderosa tempestade passou.

E depois de mil anos eu subi a montanha sagrada e novamente falei com Deus, dizendo: “Criador, eu sou tua criação. Do barro me formaste e a ti devo tudo”.

E Deus não respondeu, mas como mil asas velozes ele passou.
 

E depois de mil anos eu subi a montanha sagrada e falei com Deus novamente, dizendo: “Pai, eu sou teu filho. Com piedade e amor me deste à luz, e através do amor e da adoração herdarei o teu reino”.

E Deus não respondeu e, como a névoa que encobre as colinas distantes, ele passou.
 

 E depois de mil anos subi a montanha sagrada e novamente falei com Deus, dizendo: “Meu Deus, meu objetivo e minha realização; Eu sou teu ontem e tu és meu amanhã. Eu sou tua raiz na terra e tu és minha flor no céu, e juntos crescemos diante da face do sol.”

Então Deus se inclinou sobre mim, e em meus ouvidos sussurrou palavras de doçura, e assim como o mar que envolve um riacho que desce até ele, ele me envolveu.

E quando desci aos vales e planícies, Deus estava lá também.

— Khalil Gibran em “O Louco” (1918)

 

Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.

                                                              Rumi  .
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photographe, Daniel Biber,

Diante do Presépio...

Diante do presépio contemplamos a Bondade, a Beleza e a Verdade encarnadas num pequenino Ser.
Tanta simplicidade e tanta ternura de um Deus que quis partilhar conosco seu Amor.
Como não contemplar também toda possibilidade de transformação e de Vida nova?